segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SOLTAR CORVOS,DESTAPAR SEIOS E COMER CASTANHAS.


Outono.


Apenas mais um dia de domingo movimentado onde todo o género de pessoas corriam para trás e para a frente para cima e para baixo pelas ruas da Cidade mais Cosmopolita e

conhecida da Capital do país. Muitos dos quais eram donos de lojas locais à espera de fazer um pouco de negócio com o fim da maré de turistas veraneantes.

Miúdos locais enchiam os Centros comerciais à descoberta do próximo filme sangrento que surgisse no cinema.Tambem alguns idosos reformados saiam de casa à procura

de um pouco de companhia e de algum vinho nas já não tão proeminentes tabernas.Turistas de todas as nacionalidades podiam ser vistos aqui e ali na busca de

algum "tesouro raro" olhando através das montras das lojas locais.A maior parte deles sentia -se defraudada suponho eu.Porque os artigos expostos para venda eram exactamente os mesmos que eram vendidos nos grandes centros de comércio dos seus paises de origem.

Esse é um dos problemas da Globalização, suponho.Estamos a tornar-nos cada vez mais parecidos um com os outros tal como cópias de fotocopiadoras.Comemos a mesma comida,vestimos as mesmas roupas,ouvimos a mesma música,trabalhamos nos mesmos empregos,vivemos pelos mesmos padrões em toda a parte e carregamos a nossa vida tal qual fardo pesado um dia atrás do outro.(Desculpem, hoje sinto-me um pouco azedo).

Mas estou a perder-me ,estava prestes a contar-lhes uma pequena história que me aconteceu ontem.O.K. então mais uma vez do início...Eu estava sentado numa esplanada

de um café bastante popular e movimentado a beber umas cervejas apenas a relaxar a olhar para o rio e a escutar o burburinho das muitas línguas faladas à minha volta.

A lingua Portuguesa misturava-se com as línguas Francesa,Inglesa,Italiana e Japonesa criando um som internacional alto e vivo que é suposto existir em todas as esplanadas dos cafés muito cheios e bem frequentados.O cheiro a castanhas assadas encheu o ar quando passou um vendedor ambulante a empurrar um carrinho

de mão encimado por algo que parecia uma pequena chaminé.Esta pequena chaminé era na verdade uma pitoresca panela de assar castanhas que ficava agarrada ao carrinho de mão e que possuia a característica de também ser um pequeno forno a carvão.Este género de fornos hoje em dia em que ser fornos eléctricos por causa das "Medidas de higiene profiláticas extremamente rigorosas e não respires em cima de mim ou podes encher-me de germes novas leis Europeias de segurança e higiene " .

Este género de fornalhas saõ feitas de aço inox o que na verdade" rouba" o sabor genuino da castanha assada Portuguesa cozinhada no carvão.Assim passaram de fomidáveis

a simplesmente comestíveis.A Profissão em si também está a acabar pois num mundo futurista cada vez mais rápido e em crescimento contínuo tristemente parece não haver espaco para "vendedores ambulantes" que empurram carrinhos de mão pelos passeios.Assim apenas os muito pobres ainda vão mantendo a tradição das velhas profissões.

Levantei-me da cadeira e comprei meia dúzia de castanhas assadas ao vendedor, conforme ele entregava-me as mesmas enrroladas no pacote de cartão quente gritou o habitual pregão "QUEM QUER QUENTES E BOAS" para quem quisesse ouvir.Sentei-me novamente e Alguns turistas Japoneses imitaram-me e compraram alguns pacotes.

Vi-os a mastigar completamente deliciados.Entre estes estava uma mulher que amamentava o bébé enquanto mastigava castanhas e bebia cerveja.

O Gerente do café dirigiu-se até mim num passo rápido e aproximando-se da minha mesa disse -Senhor, desculpe mas não pode comer aqui,é política da casa sabe ?

Pensei para comigo que se calhar eu tinha "cara de cu" escrito na minha testa ou se calhar tinha-me esquecido de tomar duche e barbear-me.Se calhar estava a dar

um mau exemplo aos turistas comprando artigos comestíveis locais a vendedores de rua que provavelmente traziam escondidos debaixo das vestes horrendos vírus mortais do tamanho de ratazanas

e ainda por cima não deviam lavar as mãos antes de almoçar.Ou então aquele idiota não gostava de um bocadinho de competição amigável dos vendedores ambulantes locais.

Como disse ? -Perguntei eu (Enquanto media aquele cretino de alto a baixo à procura da melhor zona para dar-lhe um pontapé).

-É como lhe digo (RETORQUIU O ESTÚPIDO)não pode comer nada que não possa ser comprado no café.

-Bem,e então beber ? -perguntei.Porque aquele senhor baixinho ali está a beber leite que não foi comprado no seu estabelecimento por isso acho que devia falar com ele!?!

Apontei para a senhora Japonesa conforme ela amamentava o bébé do modo mais natural e espontaneo possivel como todas as mães do mundo fazem desde sempre.

O paneleirote saiu a murmurar algumas palavras baixas e incompreensíveis provavelmente contra a minha Mãe enquanto se recolhia de novo para dentro do café.

Enquanto a mulher tomava a cerveja o bébé mamava como se não houvesse amanhã~e provavelmente acabaria a sua refeição bêbado e feliz.

Reparei quando um grupo de clientes(todos homens) esbugalhavam os olhos ao peito semi desnudado da mulher.Pensei para comigo que aqueles pobres tipos se calhar tinham sido todos amamentados a biberão em pequenos.

Paguei a minha conta e sai do café a rir-me sozinho e apanhei o eléctrico ia até à colina com "lugar nenhum" como destino na mente.

Não pude deixar de reparar ao olhar através da janela do eléctrico num corvo solitário que fazia círculos lá bem em cima no céu.Um ponto negro e solitário que contrastava com

a cor acizentada e Outonal das nuvens.

Sabem, é que costumavam existir muitos corvos na minha cidade natal mas um certo ÁLGUEM influente teve a ideia brilhante que estes tipos não eram higiénicos e que estariam

melhor fechados nalguma gaiola em algum zoo.Agora apenas alguns eram vistos de tempos a tempos a circular pelo ar sem destino.Verdadeiros párias(pensei para comigo)

Livres e dignos o suficiente para trilhar os céus sempiternos de Deus mas desmerecedores de pousar em terra pois estas eram aves negras e feias que nunca preencheriam a

imagem standartizada de querubins alados com asas brancas rechonchudos e loiros criados pela ideia retorcida de valor dos Humanos.

E sinto pena que assim seja pois sempre gostei de Corvos.

Sem saber muito bem porquê larguei uma gargalhada sonora.





-A vontade de erguer estátuas é tão poderosa como a vontade de as derrubar.

1 comentário:

  1. Ah Lisboa!! Que saudades!! Da cidade e das castanhas!
    É realmente triste pensar que em breve não haverá mais vendedores ambulantes de castanhas

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